Melhor XI do Real Madrid sob Zinedine Zidane — Onde Eles Estão Agora?

A noite que definiu uma era

Feche os olhos por um segundo. Lembre-se de junho de 2017, Cardiff, Principality Stadium. O rugido da torcida, as camisas brancas avançando, e aquela atuação implacável no segundo tempo que deixou a Juventus perseguindo sombras. Real Madrid 4, Juventus 1. Não foi apenas uma vitória — foi uma declaração, uma aula de futebol, o tipo de jogo que faz você sentar e pensar: “É assim que o futebol deve ser.”

O próprio Zinedine Zidane chamou aquilo de perfeição. Anos depois, quando perguntado sobre o ápice de sua carreira como treinador, ele apontou diretamente para aquela noite:
“A forma como jogamos o segundo tempo foi realmente espetacular. Assisti quatro, cinco, seis vezes… e sempre disse: ‘Isso é futebol. Perfeição.'”

Aquela equipe não dominou apenas uma final. Eles conquistaram três Liga dos Campeões consecutivas, algo que nenhum clube havia feito na era moderna. O XI que Zidane escalou em Cardiff era a mistura perfeita de suas duas equipes — veteranos que já haviam visto tudo, jovens famintos, e um meio-campo capaz de dobrar o tempo.

Quase uma década se passou desde aquela noite. Os jogadores que vestiram branco e fizeram história se espalharam pelos continentes; alguns ainda jogam, outros penduraram as chuteiras, e alguns retornaram ao Bernabéu em funções diferentes. Aqui está o que aconteceu com os homens que fizeram o futebol de Zidane parecer inevitável.


Keylor Navas — O goleiro que não deveria ter funcionado, mas funcionou

Como ele se tornou titular
O Real Madrid contratou Keylor Navas em 2014, mas ninguém realmente esperava que ele se tornasse a solução de longo prazo no gol. Ele era bom, claro, mas o clube tinha nomes maiores em mente. Então veio o verão de 2015 e a agora infame “saga da máquina de fax”. O Madrid tentou trocar Navas por David de Gea no último dia de mercado, mas a papelada não chegou a tempo, e o negócio desmoronou.

Olhando para trás, aquele fax quebrado pode ter sido uma das falhas técnicas mais sortudas da história do futebol. Navas se tornou o titular indiscutível e um dos goleiros mais confiáveis da era do tricampeonato. Ele não era o mais chamativo, não dominava as manchetes, mas quando a bola chegava em momentos importantes, você confiava nele.

A campanha 2016-17
Durante aquela Liga dos Campeões, Navas registrou uma das maiores quantidades de defesas da competição. Salvou o Madrid mais vezes do que as pessoas lembram, com reflexos que mantiveram vitórias apertadas e defesas com uma mão só que destruíram o ímpeto adversário. Contra a Juventus na final, ele foi sólido quando chamado — sem heroísmos, mas cada decisão limpa, cada defesa confiante.

Onde está agora
Em 2019, o Madrid tomou a decisão estranha de negociar Navas com o PSG em troca de um empréstimo de Alphonse Areola, que fracassou. Na época, Navas ainda era um dos melhores goleiros do mundo, tornando a decisão ainda mais difícil de entender. Ele brilhou em Paris, conquistou títulos domésticos, chegou à final da Champions 2020 e lembrou a todos do que haviam perdido.

Depois do PSG, Navas teve uma breve passagem pelo Nottingham Forest antes de se transferir para a Liga MX, onde atualmente joga pelo Pumas UNAM. Aos 38 anos, ainda está afiado, é capitão e continua fazendo defesas difíceis parecerem rotina. Em sua Costa Rica natal, é um herói nacional, o cara que os levou às quartas de final da Copa do Mundo e fez toda uma geração acreditar.


Dani Carvajal — O garoto que colocou a pedra fundamental e virou lenda

O menino que voltou para casa
Há uma foto famosa que circula pelos círculos do Madrid: um garotinho de camisa branca, colocando a pedra fundamental do Real Madrid City, o centro de treinamento do clube. Aquele garoto era Dani Carvajal. Avançando algumas décadas, ele se tornou um dos maiores laterais direitos a vestir a camisa. Se isso não é uma história completa, nada é.

Seu papel sob Zidane
Quando Cardiff chegou, Carvajal já havia consolidado completamente a vaga de lateral-direito. Não havia debate, nem rodízio — apenas Dani, semana após semana, fazendo o que sabia fazer de melhor. Ele não era apenas um defensor; era uma saída, uma peça de transição, o cara que podia se recolher quando o meio-campo avançava ou atacar quando os alas cortavam para dentro.

Na final de 2017, ele registrou uma assistência e fez uma das performances em que as estatísticas nem mostram metade da história. Duetos defensivos vencidos, subidas sobrepostas cronometradas à perfeição e aquela comunicação constante com Sergio Ramos e Toni Kroos que tornava o lado direito do Madrid uma fortaleza.

Ainda aqui, ainda lutando
Aos 33 anos, Carvajal ainda veste a camisa branca e continua sendo um dos capitães. Ele é o último elo real com os anos de Zidane, o cara que esteve presente nos seis títulos recentes da Liga dos Campeões do Madrid. Quando Trent Alexander-Arnold chegou do Liverpool, muita gente pensou que o tempo de Carvajal havia acabado. Não foi bem assim. A disputa pela lateral-direita tem sido feroz, e Carvajal não cedeu um centímetro.

Ele é tudo que o Madrid quer em um jogador: comprometido, inteligente, resistente quando importa e disposto a sangrar pelo escudo. O Bernabéu ainda vibra quando ele dispara pela linha, porque sabem que ele é um deles.


Raphaël Varane — O guerreiro elegante que partiu cedo

O parceiro perfeito para Ramos
Após o declínio de Pepe e sua eventual saída, o Madrid precisava de alguém para fazer dupla com Sergio Ramos na zaga. Surge Raphaël Varane, um defensor que era tudo que Pepe não era: calmo, composto, veloz como um relâmpago e taticamente impecável. Onde Ramos trazia fogo e agressividade, Varane trazia gelo e inteligência. Juntos, eram quase impossíveis de quebrar.

A velocidade de Varane era como um código de trapaça. Permitindo ao Madrid jogar com linha alta e pressionar agressivamente, se alguém passasse, Varane poderia recuperar. Sua leitura do jogo o deixava sempre um passo à frente — interceptando passes antes que chegassem, avançando para ganhar a bola limpo e iniciando ataques com sua distribuição.

Performance na final de 2017
Contra a Juventus, Varane foi imponente. Gonzalo Higuaín e Paulo Dybala mal tiveram espaço. Cada vez que a Juventus tentava criar algo pelo meio, Varane estava lá — posicionamento perfeito, desarmes limpos, sem pânico. Ele e Ramos foram a fundação que permitiu que Marcelo e Carvajal avançassem e o meio-campo assumisse riscos.

Onde está agora
Varane deixou o Madrid em 2021 rumo ao Manchester United, e não deu muito certo. Lesões, instabilidade da equipe e outros fatores impediram que ele voltasse a mostrar a consistência do Madrid. Em 2023, foi para a Série A com o Como, buscando um recomeço.

Em 2024, anunciou sua aposentadoria aos 31 anos. Ainda jovem, mas com razões de corpo e mente. Agora, faz parte da diretoria do Como, envolvido no desenvolvimento de jovens defensores. O futebol perdeu um grande jogador, mas ele ainda contribui de outra maneira.


Sergio Ramos — O guerreiro que nos fez acreditar

Mais que um jogador
Sergio Ramos não é apenas um futebolista. Ele é um símbolo, um espírito, a encarnação do que o Real Madrid representa: nunca desistir, sempre acreditar e aparecer nos momentos mais decisivos. Por 16 anos, carregou o clube, liderou pelo exemplo, marcou gols impossíveis e fez adversários temerem bolas paradas.

Aquele cabeceio aos 93 minutos contra o Atlético em 2014 é o momento que os fãs mais lembram. Perdendo por 1-0, nos acréscimos, a Champions escapando — e então ele subiu, cabeceou e enlouqueceu o Bernabéu. O Madrid venceu aquela final e conquistou mais três em quatro anos. Aquele gol foi a faísca.

O líder que Zidane precisava
Em Cardiff, Ramos não estava apenas defendendo — ele organizava, apontava, gritava, exigia padrão de todos ao redor. Zidane o chamava de general em campo, o jogador que podia traduzir a visão do técnico em ação. Quando a equipe precisava de alguém para segurar a linha ou decidir momentos críticos, Ramos era o homem.

A dolorosa despedida
Ramos saiu do Madrid em 2021 após uma disputa contratual, e ainda dói. Os fãs se sentiram traídos pelo clube, pela situação, pelo fim. Ele se juntou ao PSG, onde lesões limitaram seu impacto, e depois retornou à Espanha com o Sevilla por pouco tempo.

Em 2024, assinou com o CF Monterrey da Liga MX, usando a camisa 93 — uma homenagem ao gol lendário de 92:48 em 2014. Aos 39 anos, ainda joga em alto nível, lidera a defesa de Monterrey, marca gols ocasionais e lembra a todos que o fogo nunca se apaga.
Real Madrid, Sergio Ramos n'a jamais cherché à "humilier ou offenser" |  Goal.com Français


Marcelo — O mágico brasileiro que redefiniu a posição

Não era um lateral comum
Marcelo não defendia como lateral; atacava como ponta, criava como armador e driblava como um camisa 10 que começava 30 metros atrás. Ver ele e Cristiano Ronaldo combinarem na esquerda foi uma das maiores alegrias do Madrid de Zidane — dois jogadores que se entendiam tão bem que as defesas não conseguiam lidar com ambos.

Sua habilidade técnica era absurda. Dribles, passes sem olhar, a capacidade de se livrar de marcadores e aparecer atrás da defesa — Marcelo fazia o difícil parecer fácil. Ele era alegria em forma de futebol.

Final de 2017
Contra a Juventus, Marcelo deu uma assistência e esteve por todo o campo. Suas subidas arrastavam defensores, seus cruzamentos criavam oportunidades, e seu controle de posse mantinha o Madrid no comando. Quando o lado esquerdo abria, geralmente era porque Marcelo tinha feito algo inteligente.

Onde está agora
Marcelo deixou o Madrid em 2022 após 15 anos e mais de 500 jogos. Jogou brevemente no Fluminense antes de se aposentar em 2024. Hoje, acompanha jogos da La Fábrica, vendo o filho Enzo Alves — já se destacando na academia do Madrid. O sorriso ainda está lá, o amor pelo clube nunca se foi, e seu legado é seguro.


Toni Kroos — O metrônomo que fazia tudo parecer fácil

O cérebro da operação
Toni Kroos não corria mais que ninguém, não desarmava mais forte, não gesticulava exageradamente. Ele apenas… controlava o jogo. Sempre. Com seus pés, visão e precisão de passe que faziam 92% parecerem um dia normal.

Kroos decidia onde o Madrid jogava. Precisando desacelerar, tomava dois toques e reciclava. Precisando acelerar, lançava um passe de 40 metros a Carvajal em um movimento. Precisando quebrar a defesa, passava por um espaço invisível. Ele fazia parecer meditação o trabalho mais difícil do futebol: ditar o ritmo por 90 minutos.

Final de 2017
Em Cardiff, Kroos terminou com 92% de passes certos, pura marca Kroos. Quase sem erro. Cada decisão limpa, cada passe perfeito, cada troca de jogo no momento certo. Juventus pressionava, Madrid passava. Isso era Kroos.

Aposentadoria no auge
Kroos se aposentou em 2024 após a sexta Champions com o Madrid. Ainda jogava em nível de elite, era o melhor passador e o cara que você queria em jogos para controlar o ritmo. Alguns achavam que ainda tinha mais um ano. Talvez tivesse, mas escolheu sair no auge, sem nada a provar.

Hoje faz trabalhos na mídia, comanda seu podcast e aproveita a vida fora do campo. A discussão sobre se merecia ou não um Ballon d’Or vai durar para sempre, mas quem assistiu sabe: foi um dos melhores meio-campistas de sua geração, talvez de todos os tempos.


Casemiro — O escudo que tornou tudo possível

O herói silencioso
As pessoas falam de Kroos e Modrić como poesia em campo, e são. Mas poesia não funciona sem pontuação, e Casemiro era o ponto final em cada ataque perigoso. Era o âncora defensivo, quem permitia aos outros dois liberdade, o escudo que protegia a defesa quando os laterais avançavam.

Seu posicionamento era elite. Antecipava o jogo, cortando linhas de passe antes da bola chegar. Desarmava de forma agressiva e inteligente — sabendo quando se comprometer ou esperar. E quando necessário, disparava foguetes de 25 metros que acabavam no ângulo.

A cola que mantinha tudo unido
Sem Casemiro, o sistema de Zidane não funciona. Não dá para ter Marcelo e Carvajal atacando sem cobertura. Não dá para Kroos e Modrić ditarem o jogo sem quem recupere a bola. Casemiro fazia o trabalho sujo para que os outros brilhassem, e fazia melhor que quase qualquer um.

Ainda em ação
Casemiro deixou o Madrid em 2022 para o Manchester United, onde continua sendo um dos melhores, mesmo com os problemas da equipe. Aos 33 anos, ainda vence desarmes, marca gols ocasionais e prova que os melhores volantes valem seu peso em ouro.


Luka Modrić — O mago que completou o futebol

De “pior contratação” a lenda
Quando o Madrid contratou Modrić em 2012, a mídia espanhola o chamou de “pior contratação do ano”. Pequeno, adaptando-se com dificuldade, muitos duvidavam de sua qualidade. Ele calou a todos e se tornou um dos maiores meio-campistas da história.

Modrić fazia o tempo se comportar diferente. Vê dois passes à frente, lança bolas em espaços impossíveis, movimenta-se com graça que deixava defensores desajeitados. Sua visão era sobrenatural — passes que fazem você rebobinar para entender como ele viu o ângulo.

Final de 2017
Contra a Juventus, Modrić estava em todo lugar. Abria defesas, conectava linhas, garantindo sempre uma opção. Sempre que a Juventus pressionava, Modrić escapava, encontrava espaço e lançava o próximo ataque. Ele era o maestro.

Ainda jogando, ainda mágico
Modrić deixou o Madrid em 2024 e assinou com o AC Milan, onde brilha aos 40 anos. Quarenta. A maioria dos meio-campistas já parou aos 35, mas ele continua dobrando defesas na Serie A como se tivesse 28. Atemporal, mestre do jogo que não desacelera. Lenda é pouco.


Isco — O artista esquecido

Zidane em campo
Isco era o mais próximo de Zidane no campo — gracioso, técnico, capaz de transformar espaço apertado em um oceano de possibilidades com um toque. Não era barulhento, não dominava manchetes, mas quando Madrid precisava destravar defesas, ele era a resposta.

Na final de 2017, Zidane escalou Isco à frente de Bale porque a Juventus estava fechada. Precisavam de um chaveiro, não de um bulldozer. Isco entregou, driblando, atraindo defensores e criando espaço para outros explorarem. Performance poética.

As dificuldades e o renascimento
Lesões e problemas físicos levaram Isco a sair do Madrid em 2022. Por um tempo, parecia que seus melhores dias tinham passado. Então o Real Betis lhe deu uma chance, e ele brilhou — de volta ao seu melhor, driblando, ditando ataques, lembrando todos do que estavam perdendo.


Karim Benzema — O superstar humilde

O jogador de equipe definitivo
Benzema passou anos subestimado, jogando à sombra de Cristiano Ronaldo, sacrificando gols e glória pelo time. Ligava jogadas, atraía defensores, criava espaços, sem reclamar. Quando Ronaldo saiu, Benzema virou o protagonista — e todos perceberam o quão bom ele sempre foi.

Na final de 2017, Benzema fez o que sempre fazia: ocupou defensores, recuou para conectar, finalizou chances. Era a cola do ataque, o jogador que melhorava todos ao redor.

Das riquezas sauditas ao legado consolidado
Benzema deixou o Madrid em 2023 após ganhar o Ballon d’Or e tudo mais. Foi para o Al-Ittihad, na Arábia Saudita, ainda marcando aos 37. Legado seguro: um dos maiores atacantes da geração, jogador que elevou todos à sua volta, prova de que humildade e grandeza coexistem.


Cristiano Ronaldo — O coração

A força definidora
Ronaldo era o motivo pelo qual Madrid acreditava que podia vencer tudo. Seus dois gols na final de 2017 — um perto do poste, outro clínico — foram puro Ronaldo: implacável, inteligente, inevitável. Nos momentos decisivos, ele estava lá.

Ele não só marcava. Exigia excelência de todos ao redor, estabelecia padrões tão altos que os companheiros não tinham escolha a não ser corresponder. Quando a pressão aumentava, quando o jogo estava no fio da navalha, Ronaldo entregava. Sempre.

Ainda em busca da história
Ronaldo deixou o Madrid em 2018 para a Juventus, quebrando milhões de corações. Depois, foi para o Al Nassr, ainda marcando aos 40. Está a 52 gols de alcançar 1.000 na carreira — 451 deles com o Madrid. Números absurdos, mas é Ronaldo: transforma o impossível em rotina.


Por que aquele XI ainda ecoa

Porque não era apenas talento — era equilíbrio. Laterais atacavam como pontas, meio-campo controlava como sinfonia, atacantes faziam o necessário sem ego. Defensores viviam no limite, cortando para o outro lado. Zidane confiava, dava um plano, e saía de cena quando a magia começava.

E quando importava — aos 93 minutos ou com o placar no limite — todos encontravam a bola calmos, prontos, inevitáveis.

É por isso que ainda falamos deles. E sempre falaremos.


Sergio Ramos